22.9.10

"8. até à hora da nossa morte, temos dificuldades em considerar alguém o amor da nossa vida. (...) mas demos por nós a telefonar um ao outro todos os dias, chegávamos a fazer cinco chamadas por dia, não que tivéssemos qualquer coisa especial para dizer, apenas porque ambos sentíamos que nunca tínhamos falado assim com ninguém, que tudo o resto fora acomodação e equívoco, que só agora íamos finalmente compreender e ser compreendidos - que a espera chegara de facto ao fim. (...)
9. e foi por eu sentir que tínhamos sido feitos um para o outro que nunca me passou pela cabeça que encontrar C fora uma simples coincidência. perdi a capacidade de considerar a questão da predestinação com o cepticismo implacável que o problema requer. (...) descobrimos assim que ambos tínhamos nascido por volta da meia noite no mesmo mês de um ano par. ambos tínhamos tocado clarinete e feito parte do elenco de produções amadoras do Sonho de Uma Noite de Verão. tínhamos ambos duas grandes sardas no dedo gordo do pé esquerdo e uma obturação no mesmo molar. tínhamos ambos o hábito de espirrar quando o Sol estava forte e de tirar o ketchup do frasco com uma faca. até tínhamos a mesma edição de Ana Karenina nas nossas estantes - pequenos pormenores, talvez, mas eram ou não o fundamento bastante para qualquer crente criar uma nova religião?"


ensaios de amor, Alain De Botton

6 comentários:

  1. São sempre essas pequenas coisas que fazem toda a diferença. E bastam ser assim pequenas.
    Ao meu coração falta-lhe bastante.

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  2. Falta sempre algo, por vezes até demasiado, mas compensamos sempre essa falta com algo que nos vá fazendo felizes.

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  3. neste caso não são nada saudáveis.

    "mas demos por nós a telefonar um ao outro todos os dias, chegávamos a fazer cinco chamadas por dia, não que tivéssemos qualquer coisa especial para dizer, apenas porque ambos sentíamos que nunca tínhamos falado assim com ninguém, que tudo o resto fora acomodação e equívoco, que só agora íamos finalmente."
    lindo!

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  4. sim, isso acredito mas aind está longe disso.
    pelo o que li aqui, também achei lindo, lindo. fico á espera para ler mais um pouco, tiago:)

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  5. Que giro o.o
    "descobrimos assim que ambos tínhamos nascido por volta da meia noite no mesmo mês de um ano par. ambos tínhamos tocado clarinete e feito parte do elenco de produções amadoras do Sonho de Uma Noite de Verão. tínhamos ambos duas grandes sardas no dedo gordo do pé esquerdo e uma obturação no mesmo molar. tínhamos ambos o hábito de espirrar quando o Sol estava forte e de tirar o ketchup do frasco com uma faca. até tínhamos a mesma edição de Ana Karenina nas nossas estantes" isso já era o destino, não coincidencias.

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